EM RESUMO...
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1 - A Península Ibérica: localização e quadro natural
As
representações da Terra
Para
representarmos o planeta Terra utilizamos, principalmente, o globo terrestre e
o planisfério. O globo é a maneira mais fiel de o representar, apesar de a sua
utilização ser pouco prática. O planisfério é um mapa que representa a Terra na
totalidade, numa superfície plana. É de utilização fácil, mas tem o inconveniente
de representar de forma plana uma realidade esférica.
Também existem mapas que representam apenas
uma parte da superfície terrestre, como, por exemplo, o mapa da Europa ou o
mapa de Portugal. Para a interpretação correta
dos mapas é importante que existam cinco elementos fundamentais: o título, a
legenda, a escala, a orientação e a fonte. O título refere o que está a ser
representado no mapa. A legenda explica o significado de todas as cores e símbolos
usados. A escala refere o número de vezes que a realidade foi reduzida para
poder ser representada e pode ser numérica ou gráfica. A orientação indica a
direção do Norte e é geralmente representada através de uma seta ou de uma rosa-dos-ventos.
Por sua vez, a rosa dos ventos é uma figura
que indica os pontos cardeais (norte, sul, este e oeste) e os pontos colaterais (noroeste, nordeste, sudoeste e sudeste).
Para ajudar a localizar pontos na superfície
terrestre, os geógrafos traçaram linhas imaginárias, como o Equador (que divide
horizontalmente a Terra em duas partes iguais: o hemisfério norte e o
hemisfério sul) ou o Meridiano de Greenwich, usado para medir distâncias e
determinar o fuso horário dos países, entre outros elementos geométricos da
esfera terrestre.
A localização
da Península Ibérica
O planeta Terra tem uma forma esférica,
ligeiramente achatada nos polos. Visto do espaço tem um aspeto azulado, porque
cerca de 70% da sua superfície é constituída por água, presente nos mares e
oceanos.
Existem cinco oceanos: o Oceano Atlântico,
o Oceano Índico, o Oceano Pacífico, o Oceano Ártico e o Oceano Antártico, que
rodeiam os seis continentes: a Europa, a Ásia, a África, a América, a Oceânia e
a Antártida.
A Península Ibérica está localizada no
hemisfério norte, no extremo sudoeste da Europa. É constituída por dois países:
Portugal e Espanha. Os seus limites naturais são: a norte e a oeste o Oceano
Atlântico; a sul o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo; a este o Mar
Mediterrâneo; e a nordeste os Pirenéus (que são um istmo, isto é, a única
ligação terrestre da Península Ibérica ao continente europeu).
A Península Ibérica tem uma posição
estratégica relativamente aos continentes africano e americano, dos quais se
encontra separada, respetivamente, pelo Estreito de Gibraltar e pelo Oceano
Atlântico, que é uma importante via de comunicação.
O relevo da
Península Ibérica
A superfície terrestre não é totalmente
plana e apresenta várias formas, a que chamamos de relevo e que se distinguem,
sobretudo, pela altitude, que pode ser negativa ou positiva.
As planícies, montanhas, planaltos e vales
são as principais formas de relevo. As planícies são terrenos planos de pouca
altitude. As montanhas são grandes elevações de terreno, de altitude elevada, e
agrupam-se em serras e cordilheiras. Os planaltos são terrenos planos situados
a média ou alta altitude; como o próprio nome indica, são terrenos planos em
pontos altos. Os vales são terrenos situados entre duas áreas mais elevadas e,
por norma, são o local de passagem de um rio.
Uma das formas de representar o relevo é
através de mapas hipsométricos. Nesses mapas, os locais de menor altitude são
assinalados a verde e a amarelo e os locais com maior altitude surgem com
vários tons de castanho.
A Península Ibérica é uma região de relevo
bastante acidentado. No Norte, destaca-se a Meseta Ibérica, que é um extenso
planalto, rodeado e atravessado pela Cordilheira Cantábrica e pelos Pirenéus; a
Cordilheira Central e a Cordilheira Ibérica destacam-se no Centro; e a
Cordilheira Bética no Sul. As principais planícies localizam-se junto à costa.
Em Portugal, o relevo é mais acidentado no
Norte e Centro, enquanto que no Sul e junto ao Litoral predominam as planícies.
O ponto mais alto de Portugal continental é a Serra da Estrela.
O clima da
Península Ibérica
O estado de tempo é o estado da atmosfera
num determinado lugar e momento e é a Meteorologia que estuda as suas
variações. O clima é o conjunto das condições atmosféricas que habitualmente se
registam numa região ou país. Para conhecer o clima de uma região é necessário
recolher diariamente informações sobre a temperatura, a precipitação e o vento
durante, pelo menos, trinta anos.
Para quantificar esses elementos do clima
são utilizados vários instrumentos, nomeadamente: o termómetro, para medir a
temperatura; o pluviómetro, para medir a precipitação; e o anemómetro, para
medir a velocidade do vento.
O clima é influenciado pela localização de
cada uma das áreas geográficas do planeta Terra. Existem três zonas climáticas:
a zona quente (mais perto do Equador); as zonas frias (junto aos polos); e as
zonas temperadas (situadas entre as zonas frias e quente).
A Península Ibérica situa-se na zona
temperada do Norte. Nesta região, o clima varia ao longo do ano,
distinguindo-se quatro estações: a primavera, o verão, o outono e o inverno.
Para além da zona climática, existem
outros fatores que influenciam o clima, tais como a altitude e a proximidade ou
afastamento do mar. É por isso que na Península Ibérica existem variações
climáticas.
De acordo com as temperaturas e a
precipitação, na Península Ibérica distinguimos três zonas climáticas: a zona
atlântica, a zona interior e a zona mediterrânica. A zona atlântica, no Norte e
Noroeste, apresenta um clima marítimo, muito chuvoso, principalmente no
inverno, e as temperaturas são, por norma, amenas, tanto no inverno como no
verão. A zona interior apresenta um clima temperado continental, com verões
quentes e invernos frios e secos. A zona mediterrânica, no Sul, tem um clima
temperado mediterrânico, pouco chuvoso, com verões quentes e invernos mais
amenos.
Os rios da
Península Ibérica
Os principais rios da Península Ibérica
são o Douro, o Tejo, o Guadiana, o Guadalquivir e o Ebro. Todos eles desaguam
no Oceano Atlântico, exceto o rio Ebro, que desagua no Mar Mediterrâneo. Isto
acontece porque a maioria do relevo ibérico orienta-se de este para oeste,
fazendo com que os rios corram nesse sentido.
O rio Tejo tem a maior extensão, enquanto
o rio Douro tem um caudal maior, isto é, transporta uma maior quantidade de
água, porque fica localizado numa zona de maior precipitação.
Em Portugal continental, destacam-se os
rios Minho, Douro, Mondego, Tejo e Guadiana. Alguns rios, como o Douro, o Tejo
e o Guadiana, nascem em Espanha e desaguam em Portugal e, por isso, são
designados de rios luso-espanhóis. Os rios nacionais são os que correm apenas
em território português. O rio Mondego é o maior rio português; nasce na Serra
da Estrela e desagua na Figueira da Foz.
Em todos estes rios principais, desaguam outros
rios mais pequenos – os rios afluentes. O rio principal e os seus afluentes
formam uma rede hidrográfica, que, por sua vez, compõe a bacia hidrográfica.
A vegetação
da Península Ibérica
A vegetação natural de uma região é
formada por todas as plantas que nascem sem intervenção humana. É influenciada
pela qualidade do solo, pelo clima e pelo relevo da região.
A vegetação natural da Península Ibérica
varia de acordo com as regiões. No Norte e Noroeste, zona mais fresca e
chuvosa, a vegetação é verdejante, predominando as espécies de folha caduca
(que perdem a folhagem na estação fria), como o carvalho e o castanheiro. A
esta região chamamos de Ibéria Húmida. No Sul e Interior, região mais quente e
seca, a vegetação é constituída, maioritariamente, por espécies de folha
persistente (que conservam a folha durante todo o ano), como o sobreiro, a
azinheira e o pinheiro manso. A esta região damos o nome de Ibéria Seca.
Todavia, ao longo dos tempos, o ser humano
tem alterado a vegetação natural ao destruir florestas para construir casas,
estradas, cultivar campos... Os incêndios e a poluição são também causadores da
sua destruição. Para se salvaguardar e preservar a vegetação natural são
construídos parques e reservas naturais. Proteger as espécies deste tipo de
vegetação deve ser uma obrigação de todos nós.
Os
arquipélagos da Madeira e dos Açores
Portugal, para além do território
continental, é constituído pelos arquipélagos da Madeira e dos Açores, que são
dois conjuntos de ilhas situados em pleno Oceano Atlântico.
O arquipélago da Madeira fica situado a
sudoeste de Portugal continental e é composto pelas ilhas da Madeira, de Porto
Santo e por dois grupos de ilhas desabitadas: as Desertas e as Selvagens. Como
o arquipélago é de origem vulcânica, o relevo é montanhoso, com costas altas,
vales estreitos e profundos. A ilha da Madeira é dividida ao meio por uma
cordilheira central. Por sua vez, a ilha de Porto Santo apresenta um relevo
menos acidentado, sendo os cursos de água existentes pouco extensos, por isso
têm o nome de ribeiras. No entanto, nos meses chuvosos de inverno as suas águas
são torrenciais.
O clima do arquipélago é influenciado pelo
Oceano Atlântico, pela proximidade do continente africano e pelo seu relevo,
apresentando temperaturas amenas, tanto no inverno como no verão. Contudo,
devido ao relevo, distinguem-se duas regiões climáticas na ilha da Madeira: a
vertente Norte, onde as chuvas são frequentes e as temperaturas mais baixas; e
a vertente Sul, onde as chuvas são pouco frequentes e as temperaturas mais
elevadas. Relativamente à vegetação natural, quando os Portugueses chegaram à
ilha, no século XV, encontraram uma vegetação muito densa, constituída por
dragoeiros, loureiros, urzes, giestas, entre outras plantas, que formam a
floresta laurissilva.
O arquipélago dos Açores localiza-se a
oeste de Portugal continental e é formado por nove ilhas: o Corvo e as Flores,
no grupo ocidental; S. Miguel, Santa Maria e os ilhéus das Formigas no grupo
oriental; a Graciosa, S. Jorge, Terceira, Faial e o Pico no grupo central.
As ilhas dos Açores também são de origem
vulcânica, mas, ao contrário da Madeira, no arquipélago açoriano o vulcanismo
ainda está ativo, continuando a existir, hoje em dia, erupções e sismos. O
relevo é muito montanhoso, os vales são profundos e as costas são altas, de
arriba. É na ilha do Pico que se situa o ponto mais alto do território
português: a montanha do Pico.
Os cursos de água são pouco extensos,
formando ribeiras que no inverno chegam a ter caudais torrenciais. Nas crateras
dos vulcões já extintos formaram-se lagoas, como a Lagoa das Sete Cidades e a
Lagoa do Fogo em S. Miguel.
O clima dos Açores é influenciado pelos
ventos húmidos do Oceano Atlântico, com chuvas abundantes ao longo de todo o
ano, embora sejam menos intensas no verão. As temperaturas são amenas e variam
pouco ao longo das estações do ano. A sua vegetação natural é constituída por
loureiros, cedros e faias, entre muitas outras plantas. A humidade constante em
todas as ilhas explica a existência de vastos prados verdejantes.
2 – A Península Ibérica: dos primeiros povos à
formação de Portugal
As primeiras
comunidades humanas da Península Ibérica
Há muitos milhares de anos, numa época em
que a Terra estava coberta de glaciares, chegaram à Península Ibérica os
primeiros grupos humanos, vindos do Norte de África.
Estas primeiras comunidades humanas
dependiam do que a Natureza lhes oferecia. Praticavam a caça, a pesca e a
recoleção, isto é, a recolha de frutos, raízes e folhas que cresciam
espontaneamente. Quando os alimentos começavam a faltar, os grupos tinham de se
deslocar para outras áreas e, por isso, não viviam sempre no mesmo lugar: eram
nómadas. Abrigavam-se em cavernas naturais ou em abrigos que construíam e, para
se protegerem do frio, cobriam-se com peles de animais.
Os membros destas comunidades recoletoras
já produziam o fogo, que era utilizado para aquecer e iluminar as grutas,
cozinhar os alimentos e afugentar os animais ferozes que os ameaçassem. Também
produziam instrumentos feitos com pedra, madeira, osso e chifre. Esses
instrumentos, como os bifaces, as lanças e os machados, facilitavam as tarefas
quotidianas.
Estes primeiros grupos humanos
desenvolveram também a linguagem, que foi fundamental para a sua sobrevivência,
e as primeiras manifestações artísticas. A arte rupestre e a arte parietal
consistiam em pinturas e gravuras de animais e cenas de caça, realizadas em
paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos ou mesmo em
superfícies rochosas ao ar livre.
As primeiras comunidades
agropastoris da Península Ibérica
Há cerca de 10 000 anos, o clima
tornou-se mais ameno e verificaram-se alterações na vegetação e o surgimento de
novos animais, que modificaram o estilo de vida das comunidades humanas.
A vida destas comunidades melhorou
consideravelmente quando os seus membros descobriram que, se lançassem sementes
à terra, podiam obter mais alimento, desenvolvendo assim a agricultura. Para
ajudar no cultivo da terra, desenvolveram novos instrumentos, como a enxada e a
foice. Passaram também a criar e a domesticar animais, dedicando-se à
pastorícia. Nesta época surgiram também novas técnicas, como a tecelagem, a
cerâmica, a cestaria e a moagem de cereais.
Graças à agricultura e à pastorícia, os
seres humanos fixaram-se num só local, tornando-se sedentários. As casas
passaram a ser construídas com materiais mais resistentes, como a madeira, o
barro ou a pedra, e formaram-se os primeiros aldeamentos no cimo dos montes ou,
geralmente, próximos de rios, onde os terrenos eram mais férteis.
As comunidades agropastoris já prestavam
culto aos seus mortos, construindo monumentos funerários, como os dólmens ou
antas. Também erguiam outros monumentos megalíticos, como os menires e os
cromeleques, onde, provavelmente, faziam rituais em honra das forças da
Natureza.
Os
povos mediterrânicos na Península Ibérica
Entre 1000 a. C. e 500 a. C., as riquezas
naturais da Península Ibérica, como o ouro, a prata e o cobre, atraíram outros
povos, que viviam, sobretudo, do comércio feito através do Mar Mediterrâneo.
Primeiro chegaram os Fenícios, povo
originário da Fenícia, junto ao Mediterrâneo Oriental. A sua principal
atividade económica era o comércio marítimo. Para facilitar o comércio,
inventaram um sistema simplificado de escrita com 22 letras que correspondiam a
sons e formavam as palavras: o alfabeto. Esta escrita era mais fácil de
aprender do que os sistemas já usados e acabou por ser utilizada por outros
povos.
Os Gregos, povo de marinheiros e
comerciantes vindo da Grécia, estabeleceram-se também em algumas cidades no Sul
da Península, tendo introduzido a moeda para facilitar as trocas comerciais.
Os Cartagineses, originários de Cartago (no
Norte de África), fabricavam tecidos e objetos em vidro, para além de se
dedicarem ao comércio. Quando contactaram com os povos da Península Ibérica,
ensinaram-lhes a técnica de conservação de alimentos em sal.
Todos estes povos, para além dos seus
contributos técnicos e culturais que enriqueceram as culturas peninsulares,
deixaram inúmeros vestígios da sua presença, que são estudados por arqueólogos
e constituem documentos históricos que nos permitem conhecer melhor a vida dos
nossos antepassados.
Os Romanos na
Península Ibérica
Os Romanos, povo oriundo da cidade de
Roma, situada na Península Itálica, conquistaram um vasto Império à volta do
Mar Mediterrâneo graças ao seu poderoso exército. Em 218 a. C. chegaram à
Península Ibérica, atraídos pelas suas riquezas, sobretudo o ouro e a prata. A
sua conquista foi difícil, pois alguns povos procuraram resistir, nomeadamente,
os Lusitanos. Só passados quase 200 anos é que todo o território peninsular
caiu nas mãos dos Romanos, já no século I a. C.
Os Romanos permaneceram na Península
Ibérica cerca de 700 anos. Durante esse período, influenciaram muito o modo de
vida dos habitantes desta região ao transmitirem-lhes a sua cultura, nomeadamente
a língua, a religião e os seus costumes. A este longo processo de influência
chamamos romanização, que foi conseguida através de vários meios, como o
exército, que mantinha a ordem e a segurança em todo o território; o latim, que
passou a ser a língua oficial e falada em todo o Império; o Direito Romano, ou
seja, o conjunto de leis que todos os habitantes deviam respeitar; a construção
de estradas e pontes, que facilitavam a circulação de mercadorias e de pessoas;
a fundação de cidades que imitavam Roma, com os seus teatros, fóruns, templos,
termas e aquedutos; e, por fim, a moeda, que facilitava as trocas comerciais.
Atualmente, ainda podemos contemplar
vestígios da presença romana na Península Ibérica, devido, sobretudo, à
resistência e durabilidade das construções.
O
Cristianismo na Península Ibérica
O Cristianismo é uma religião fundada por
Jesus Cristo durante a época romana, há mais de 2000 anos. A mensagem de Jesus Cristo
foi revolucionária para a época: defendia valores como o amor, a fraternidade e
a igualdade de todos perante Deus, cativando muitas pessoas. Por isso, foi
considerado um agitador e condenado à morte, sendo crucificado em Jerusalém.
Após a morte de Jesus Cristo, a mensagem
cristã continuou a ser difundida pelos apóstolos e seus seguidores. Muitos
Cristãos foram perseguidos pelas autoridades romanas, pois os seus princípios
contradiziam o culto imperial e o culto aos deuses romanos, mas, mesmo assim, a
nova religião não parou de se difundir.
Em 313, o imperador Constantino deu
liberdade de culto aos Cristãos. Mais tarde, em 380, o imperador Teodósio
declarou o Cristianismo religião oficial do Império Romano. Atualmente, esta
religião continua a ser uma das maiores do mundo. A sua importância é tal que
os anos passaram a ser contados a partir do nascimento de Jesus Cristo, dando
origem à “era cristã”.
Os Visigodos na
Península Ibérica
No século V, o Império Romano passava por
uma grande crise e não conseguiu impedir que alguns povos do Norte e Centro da
Europa, atraídos pelas riquezas do território e para fugir à instabilidade
vivida nos seus locais de origem, invadissem as suas fronteiras. As invasões
desses povos, que os Romanos chamavam de “bárbaros”, contribuíram para o fim do
Império Romano no Ocidente da Europa.
Formaram-se, assim, vários reinos no
espaço que tinha pertencido ao Império Romano. Na Península Ibérica surgiram o
Reino dos Suevos e o Reino dos Visigodos. Mas os Visigodos acabaram por vencer
os Suevos e anexaram o seu território, formando um só reino que durou quase 300
anos. Como a cultura romana era mais desenvolvida e os Visigodos estavam em
minoria, acabaram por se misturar com as populações que já existiam na
Península Ibérica e adotaram os costumes romanos, como a língua e a religião
cristã.
O Muçulmanos
na Península Ibérica
Os Árabes, povo oriundo da Península
Arábica, na Ásia, viviam como nómadas em tribos, praticando a pastorícia e o
comércio. No século VII, Maomé, um dos membros dessas tribos, começou a pregar
uma nova religião que adorava um único Deus, Alá, de quem dizia ser seu
profeta, ou seja, mensageiro. Fundou assim o Islamismo, uma nova religião, cujos
seguidores são denominados de Muçulmanos.
Os princípios do Islamismo estão reunidos
no Alcorão ou Corão. São eles: crer em Alá e no seu profeta Maomé; rezar 5
vezes por dia, voltado para Meca; fazer jejum durante o Ramadão; dar esmola aos
pobres; e ir em peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida.
Unidos pela fé, os Árabes começaram a
conquistar novas terras, em busca de riquezas, terras férteis e para expandir a
sua religião. Formaram assim um vasto Império, desde a Ásia até ao Norte de
África. Em 711, invadiram o Reino dos Visigodos na Península Ibérica e, em dois
anos, conseguiram dominar praticamente todo o território peninsular, com
exceção de uma pequena região montanhosa no Norte: as Astúrias. O território da
Península Ibérica ocupado pelos Muçulmanos designava-se Al-Andalus.
Os Muçulmanos fizeram acordos com os
Cristãos que lhes permitiam preservar a sua religião e costumes. No entanto,
alguns Cristãos iniciaram a resistência ao domínio muçulmano, lutando para
reconquistar os territórios que tinham perdido. Iniciou-se, assim, a
Reconquista Cristã, que durou cerca de 800 anos.
A herança
muçulmana na Península Ibérica
A presença muçulmana na Península Ibérica
deixou marcas culturais que ainda hoje são visíveis, principalmente no Sul,
onde os Muçulmanos permaneceram mais tempo e onde desenvolveram importantes
cidades como Lisboa, Mértola, Silves, Córdova e Granada. Nessas cidades
construíram casas, palácios, castelos e mesquitas decorados com azulejos e
mosaicos.
Na agricultura introduziram novas plantas,
como o arroz, e árvores de fruto, como a laranjeira, o limoeiro, a amendoeira e
a figueira, e criaram novos sistemas de rega. Desenvolveram também várias
indústrias artesanais e deixaram-nos importantes conhecimentos nos domínios da
Medicina, da Matemática, da Astronomia e da navegação. Na língua portuguesa,
cerca de 600 palavras têm origem árabe. Deram-nos ainda a conhecer os
algarismos árabes, o papel, a pólvora e a bússola.
A Reconquista
Cristã
Após a invasão muçulmana em 711, alguns
Cristãos, principalmente os nobres, refugiaram-se nas Astúrias, onde se
organizaram para a resistência aos Muçulmanos.
Em 722 o exército comandado por Pelágio
conseguia a sua primeira vitória na Batalha de Covadonga, conseguindo formar o
Reino das Astúrias. Esta batalha marcou o início da Reconquista Cristã, ou
seja, a luta dos Cristãos contra os Muçulmanos para recuperar o território
perdido.
A Reconquista Cristã foi um processo
lento, feito de Norte para Sul, marcado por avanços e recuos, concluído apenas
em 1492, com a conquista do Reino de Granada, no Sul de Espanha. No entanto,
durante os 800 anos da presença muçulmana, os intervenientes deste conflito nem
sempre estiveram em guerra. Houve períodos de paz, em que Cristãos e Muçulmanos
viveram de forma amigável, trocando conhecimentos e costumes entre si e
mostrando uma grande tolerância religiosa. Atualmente podemos visitar alguns
vestígios da arquitetura militar da Reconquista em Portugal, como o castelo de
Almourol, entre vários outros exemplos.
O Condado
Portucalense
À medida que a Reconquista Cristã foi
avançando, com vitórias e derrotas para ambos os lados, formaram-se novos
reinos. No século XI já existiam cinco reinos cristãos na Península Ibérica:
Leão, Castela, Navarra, Aragão e o Condado da Catalunha.
Na luta contra os Muçulmanos, os reis
cristãos pediram ajuda ao Papa e a outros reinos europeus, que enviaram
cavaleiros. Esses cavaleiros eram os cruzados, dos quais se destacaram D.
Raimundo e D. Henrique, dois fidalgos franceses. Para os recompensar pelos
serviços prestados, o rei de Leão e Castela, Afonso VI, concedeu-lhes o direito
de casar com as suas filhas e ofereceu um condado a cada um. D. Raimundo casou
com D. Urraca e recebeu o Condado da Galiza. Por sua vez, D. Henrique casou com
D. Teresa e ficou com o Condado Portucalense. Em contrapartida, os dois
cavaleiros juraram fidelidade e obediência a Afonso VI.
Durante o seu governo, o conde D. Henrique
continuou a Reconquista Cristã, tentando alargar o seu território para sul, e
procurou obter autonomia, lutando pela independência do Condado.
Do Condado
Portucalense ao Reino de Portugal
Após a morte de D. Henrique, D. Teresa
assumiu o governo do Condado Portucalense, pois o seu filho, D. Afonso Henriques,
era ainda muito pequeno. No entanto, D. Teresa, para além de ter ligação
familiar com o reino de Leão e Castela, era muito influenciada por alguns
nobres galegos, o que colocava em causa a independência do Condado.
Quando D. Afonso Henriques cresceu,
apoiado pelos nobres portucalenses, combateu contra o exército de sua mãe D.
Teresa, tentando continuar a luta de seu pai pela autonomia do Condado
Portucalense. Em 1128, saiu vitorioso da Batalha de S. Mamede e passou a
governar o Condado. Tinha dois grandes objetivos: aumentar o seu território e
obter a independência. Por isso, lutou contra os Mouros, alcançando várias
vitórias que lhe permitiram alargar as fronteiras do território portucalense, e
contra o rei de Leão e Castela, Afonso VII.
Em 1143, D. Afonso Henriques assinou o
Tratado de Zamora, através do qual Afonso VII o reconheceu como rei de
Portugal, embora continuasse a dever-lhe obediência. Desta forma, o Condado
Portucalense tornou-se Reino de Portugal, governado por uma monarquia hereditária.
Para assegurar a sua independência, D.
Afonso Henriques precisava ainda de ser reconhecido como rei pela Igreja, o que
aconteceu apenas em 1179, quando o Papa Alexandre III, através da Bula
Manifestis Probatum, reconheceu Afonso Henriques como rei e Portugal
como um reino independente.
Em 1185, quando D. Afonso Henriques
morreu, as fronteiras tinham já alargado para sul até ao Tejo e uma parte do
Alentejo. Os seus sucessores continuaram a Reconquista até ao Algarve, o que
ficou concluído em 1249, no reinado de D. Afonso III. Mais tarde, em 1297, D.
Dinis assinou o Tratado de Alcanises com o rei de Leão e Castela, fixando as
fronteiras entre os dois reinos. Portugal foi assim o primeiro reino da Europa
com as fronteiras definidas, as mesmas que permanecem, praticamente, até hoje!
3 –
Portugal do século XIII ao século XVII
A exploração
da terra e do mar, o artesanato e co comércio
Após o fim da Reconquista, as atividades
económicas do reino desenvolvem-se devido ao estímulo dado à produção através
de várias medidas tomadas pelos reis.
A agricultura era a principal atividade da
população e praticava-se nas terras mais férteis. Todavia, as técnicas
agrícolas eram rudimentares e a produção variava de acordo com o clima. As
principais produções eram os cereais, o vinho, o azeite, os legumes e as
frutas. Juntamente com a agricultura, praticava-se a criação de animais;
obtinha-se, assim, carne, leite, lã e couro.
A exploração florestal era outra atividade
importante, uma vez que permitia obter muitos produtos, como a lenha, a
cortiça, o mel, a cera e os frutos silvestres. Era também nos bosques e nas
florestas que se praticava a caça.
Nos rios e no mar praticava-se a pesca, de
onde se retirava grande variedade de peixes. Por sua vez, a salicultura
consistia na extração do sal, muito utilizado para conservar os alimentos.
Através das matérias-primas obtidas da
Natureza e de outras atividades, produzia-se artesanalmente o vestuário, o
calçado e outros objetos necessários no dia a dia. A produção artesanal era feita,
principalmente, por artesãos que viviam nas cidades.
Com o clima de paz e o aumento da produção
interna, o comércio também se desenvolveu e passou a ser a atividade que gerava
mais lucro, assistindo-se ao aumento do uso da moeda. O comércio interno era
feito por almocreves, pequenos vendedores ambulantes; mas no século XIII
desenvolveram-se as feiras e mercados. Os reis cobravam impostos aos feirantes,
por isso, criavam feiras nas cidades mais importantes, através de um documento
chamado carta de feira. Já o comércio externo, ou seja, as trocas feitas entre
Portugal e outros reinos, era geralmente feito por mar. Lisboa era o principal
porto marítimo que fazia a ligação entre as rotas comerciais que vinham do
Oceano Atlântico e as rotas mediterrânicas. Os reis apoiaram os mercadores que
faziam o comércio externo e assinaram tratados de comércio com outros reinos.
Nessa altura exportava-se, sobretudo, vinho, sal, azeite, mel, peles e peixe
seco e importava-se cereais, metais, tecidos, armas e produtos de luxo.
Com o desenvolvimento do comércio, as
cidades cresceram e a população urbana aumentou, sendo necessário construir
novas muralhas.
A sociedade
medieval portuguesa nos séculos XIII e XIV
A população portuguesa no século XIII era
constituída por três grupos sociais: a nobreza, o clero e o povo. Todos deviam
obediência ao rei.
A nobreza e o clero eram os grupos
privilegiados: eram ricos, o rei doava-lhes terras, não pagavam impostos e
tinham leis próprias; contrariamente ao povo, que não tinha privilégios, mas
muitas obrigações, e era, por isso, o grupo social não privilegiado.
A principal função da nobreza era servir o
rei na guerra e na defesa das populações. O clero dedicava-se ao serviço
religioso, ao ensino e à assistência aos pobres e doentes. O povo constituía a
maior parte da população; trabalhava e pagava impostos ao rei, à nobreza e ao
clero e, na sua maioria, era constituído por camponeses que trabalhavam nas
terras dos grandes senhores.
As terras dos senhores nobres e do clero
eram denominadas de senhorios, dentro dos quais tinham muitos poderes: cobravam
os impostos aos camponeses, aplicavam a justiça e recrutavam os homens para a
guerra. Os senhorios tinham um castelo ou uma casa senhorial onde vivia o
senhor, a sua família e a sua corte. À sua volta situavam-se os campos
agrícolas e as aldeias dos camponeses, existindo sempre por perto um moinho, um
lagar e um forno, bem como bosques e florestas.
Era muito difícil melhorar a condição
social nesta época… No entanto, alguns artesãos e comerciantes, que
enriqueceram devido ao desenvolvimento económico dos séculos XII e XIII,
passaram a ter um estatuto próprio, diferente do resto do povo, formando a
burguesia.
Os concelhos
nos séculos XIII e XIV
Para além dos senhorios, existiam os
concelhos, criados pelos reis ou senhores através da carta de foral.
Na carta de foral registavam-se os
direitos e deveres dos vizinhos, que eram os moradores de um concelho. Os
vizinhos tinham mais autonomia e regalias do que os habitantes de um senhorio.
Só pagavam os impostos que ficavam definidos na carta de foral, podiam ser
proprietários de algumas terras, elegiam uma assembleia de homens bons para
resolver os problemas da comunidade e escolhiam os juízes.
Para melhor administrar o reino, o rei não
morava sempre no mesmo local. Deslocava-se por cidades e vilas. Acompanhavam-no
a família real, criados e servidores, os funcionários régios e conselheiros,
membros da nobreza e do clero que formavam a corte régia e eram chamados de
cortesãos. Ajudavam o rei na governação e, nos tempos livres, organizavam
torneios, caçadas, banquetes e saraus animados por trovadores e jograis.
Quando o rei precisava de tomar decisões
mais importantes, convocava as Cortes, que eram assembleias constituídas por
representantes da nobreza, do clero e, mais tarde, do povo, que o aconselhavam.
A cultura
medieval na Idade Média
Nos séculos XIII e XIV as pessoas eram muito
religiosas e supersticiosas. A maioria da população era analfabeta e a ciência
estava muito atrasada, por isso os fenómenos da Natureza, como as tempestades
que destruíam as colheitas, eram vistas como castigos de Deus ou obra do
Diabo...
Os nobres e as gentes do povo praticavam
tipos de cultura diferentes. A cultura popular era transmitida oralmente de
pais para filhos, principalmente através de contos, lendas e canções. A vida do
povo era muito dura e eram raros os momentos de distração, que estavam muitas
vezes associados à religião, como a ida à missa, às procissões e às romarias. A
cultura cortesã desenvolvia-se na corte do rei e nas casas dos grandes senhores
nobres. Aí realizavam-se banquetes e saraus, animados por trovadores e jograis.
Dançava-se, ouviam-se canções de amor e histórias de bravos cavaleiros. Para
além de serem uma forma de divertimento, estes saraus eram também uma forma de
obter conhecimento. O rei D. Dinis desempenhou um papel de destaque na cultura,
ao criar a primeira universidade portuguesa, o “Estudo Geral”, e ao tornar a
língua portuguesa a língua oficial do reino.
A arte também se desenvolveu. Durante a
Reconquista Cristã surgiu a arte românica. Como os tempos eram de guerra, as
construções românicas têm um aspeto de fortalezas, com paredes muito grossas e
poucas janelas. Apresentam algumas técnicas de construção romanas, como o arco
de volta perfeita e a abóbada de berço. Os edifícios eram decorados com
esculturas e pinturas nas paredes interiores.
Com o fim da Reconquista e o desenvolvimento
do comércio, surgiu um novo estilo artístico: o gótico. Estas construções são
muito altas, dando a sensação de verticalidade, e as suas paredes são finas,
com grandes janelas e rosáceas, dando aos edifícios um aspeto luminoso.
Apresentam novas técnicas de construção, como os arcos quebrados e a abóbada em
ogiva. Como elementos decorativos góticos, destacam-se os pináculos, as
esculturas e os vitrais coloridos nas janelas.
A Europa no
século XIV
No século XIV, a população europeia viveu
um período de dificuldades económicas, sociais e políticas. Várias guerras de
longa duração envolveram inúmeros reinos europeus, provocando destruição e
morte.
Uma sucessão de anos frios e chuvosos fez
diminuir as colheitas e os preços dos produtos aumentaram. A população mais
pobre passou fome e, mal alimentada, ficou sujeita a doenças. De entre as
doenças, destacou-se a Peste Negra, uma epidemia vinda da Ásia, que matou cerca
de um terço da população europeia. As más condições de higiene e a insuficiência
de cuidados médicos facilitaram a sua rápida propagação. A falta de condições
de vida levou ao aumento dos mendigos e criminosos.
O descontentamento popular manifestou-se
através de revoltas contra os nobres e alguns grandes mercadores. Aumentou
também o clima de intolerância e o fanatismo religioso. Os Judeus, por exemplo,
foram acusados de terem envenenado os poços de água, sendo apontados como os
responsáveis pela Peste Negra. Foram, por isso, perseguidos.
A crise de
sucessão de 1383-1385 e a consolidação da independência portuguesa
No reinado de D. Fernando, Portugal esteve
por três vezes em guerra com Castela, tendo sido vencido, o que agravou a crise
do reino, atingido pela Peste Negra em 1348.
Em 1383, D. Fernando assinou o Tratado de
Salvaterra de Magos com Castela, que estabelecia que D. Beatriz, a sua única
filha e herdeira, casaria com João I de Castela e o seu filho iria herdar os
dois tronos quando completasse 14 anos. Após a morte de D. Fernando, a rainha
D. Leonor Teles, sua esposa, assumiu a regência e aclamou D. Beatriz como
rainha de Portugal, desrespeitando o que estava definido no Tratado. A maioria
da nobreza e do clero apoiou esta decisão, mas o povo e a burguesia receavam
que Portugal perdesse a sua independência e apoiavam D. João, Mestre da Ordem
de Avis e meio irmão de D. Fernando.
Iniciou-se então uma conspiração contra a
rainha. O Mestre de Avis entrou no Paço Real e assassinou o Conde Andeiro,
conselheiro de D. Leonor e defensor dos interesses castelhanos.
A população aclamou o Mestre como «Regedor
e Defensor do Reino». Com receio, D. Leonor Teles fugiu para Santarém e pediu
auxílio a João I de Castela, que invadiu Portugal. O exército português,
comandado por D. Nuno Álvares Pereira, venceu as tropas castelhanas na Batalha
dos Atoleiros. Pouco depois, os Castelhanos cercaram Lisboa que, no entanto,
resistiu com valentia.
Em 1385, neste ambiente de guerra, foram
reunidas as Cortes de Coimbra para resolver o problema da sucessão. A
argumentação do Dr. João das Regras, um especialista em leis que defendeu o
direito de D. João, Mestre de Avis ao trono, conseguiu convencer os presentes,
que o aclamaram como rei, dando início à dinastia de Avis.
O rei de Castela não aceitou esta decisão
e voltou a invadir Portugal. No entanto, foi derrotado na Batalha de Trancoso
e, mais tarde, na Batalha de Aljubarrota a 14 de agosto de 1385. A vitória
portuguesa ficou a dever-se à tática do quadrado, utilizada por D. Nuno Álvares
Pereira. Graças a essa vitória, a independência nacional e a nova dinastia
consolidaram-se. Para celebrar a vitória, o rei mandou construir o Mosteiro de
Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha.
D. João I recompensou aqueles que o tinham
apoiado: atribuiu títulos de nobreza e terras a alguns burgueses, criando assim
uma nova nobreza, e retirou privilégios e terras aos nobres e membros do clero
que tinham defendido D. Beatriz. No exterior, o rei procurou novos aliados,
tendo assinado um tratado de amizade com Inglaterra e casado com a princesa
inglesa D. Filipa de Lencastre.
As motivações
e condições para a expansão marítima portuguesa
No século XV, os europeus tinham um
conhecimento muito limitado do mundo. Apenas conheciam a Europa, a África do
Norte e parte da Ásia. Sobre o mundo desconhecido contavam-se histórias e
lendas... Acreditava-se na existência de um mar tenebroso, com grandes ondas e
monstros marinhos que engoliam os barcos. As terras longínquas, segundo estas
lendas, eram povoadas por seres fantásticos e essas histórias faziam com que os
homens tivessem medo de se aventurarem por sítios desconhecidos…
Naquela época, Portugal estava em paz, mas
continuava a enfrentar dificuldades económicas. Faltavam cereais, metais
preciosos, matérias-primas e mão de obra. Para resolver a crise, os Portugueses
ultrapassaram os obstáculos criados pelas lendas e aventuraram-se pelo mar,
iniciando a expansão marítima para alargar o seu território. D. João I
pretendia resolver os problemas económicos do reino e afirmar a nova dinastia;
a nobreza queria obter mais terras, cargos e benefícios; o clero queria
expandir a fé cristã; a burguesia desejava aumentar os seus lucros, obter novos
mercados e comercializar novos produtos; o povo esperava melhorar as suas condições
de vida.
Este movimento de expansão foi possível
porque o reino reunia uma série de condições propícias: tinha uma extensa costa
marítima, com bons portos naturais e uma localização no sudoeste da Europa,
próxima de África; estava em paz e tinha as fronteiras definidas; os seus
marinheiros possuíam uma grande experiência no mar, devido à prática ancestral
da pesca e do comércio marítimo. A nível técnico e científico, o contacto com
judeus e árabes tinha transmitido o conhecimento de vários instrumentos e
técnicas de navegação. Os Portugueses também aperfeiçoaram a construção naval,
desenvolvendo um novo tipo de embarcação: a caravela. Esses conhecimentos
permitiram navegar em mar alto através da navegação astronómica, que é a
técnica de navegação orientada pelos astros.
Os rumos da
expansão quatrocentista
A expansão marítima portuguesa teve início
no reinado de D. João I em 1415, com a conquista de Ceuta. Esta cidade do Norte
de África era controlada pelos Muçulmanos e possuía muitas riquezas: ouro, escravos,
cereais e especiarias vindas do Oriente. A conquista foi um sucesso, mas não
conseguiu resolver os problemas que Portugal enfrentava, porque Ceuta era
constantemente atacada pelos Mouros e Portugal tinha mais despesas do que
lucros com a manutenção da cidade.
Assim, os Portugueses decidiram
aventurar-se em direção a outros destinos, mais a sul. Estas viagens foram
planeadas pelo Infante D. Henrique. Durante as suas descobertas, os Portugueses
chegaram aos arquipélagos da Madeira e aos Açores e Gil Eanes conseguiu dobrar
o Cabo Bojador em 1434. Em 1460, os Portugueses já tinham chegado à Serra Leoa.
Depois da morte do Infante, D. Afonso V
arrendou a exploração da costa africana a Fernão Gomes, por um período de cinco
anos. O rei continuou a combater os Muçulmanos no Norte de África, tendo
conquistado as cidades de Arzila, Tânger e Alcácer Ceguer.
Por sua vez, o príncipe D. João, futuro D.
João II, tinha grande interesse pela continuação da expansão. O sonho era
chegar à Índia por mar. Continuou, por isso, a exploração na costa africana e,
em 1488, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, descobrindo a passagem
para o Oceano Índico.
Entretanto, os reis de Castela também
queriam alargar o seu território. Ao seu serviço, o navegador Cristóvão Colombo
desembarcou nas Antilhas, ilhas da América Central, julgando ter chegado à
Índia. D. João II informou que, de acordo com o Tratado de Alcáçovas (assinado
em 1479), essas terras pertenciam ao reino português, originando um conflito
entre os dois reinos, resolvido em 1494, através da assinatura de um novo
tratado: o Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo em duas partes (uma para
Portugal e outra para Castela).
O caminho marítimo para a Índia foi
descoberto apenas no reinado de D. Manuel I. A armada, comandada por Vasco da
Gama, chegou a Calecute em 1498 e tinha como missão fazer o comércio das especiarias.
As negociações com os chefes da Índia não foram fáceis e, poucos meses após
Vasco da Gama ter regressado a Lisboa, o rei D. Manuel enviou uma poderosa
armada, dirigida por Pedro Álvares Cabral, para impor a presença dos
Portugueses no Oriente. No entretanto, durante a viagem, a armada desviou-se da
rota e acabou por descobrir o Brasil em 1500, ao qual chamaram Terra de Vera
Cruz.
No século XVI, os Portugueses controlavam
o comércio de especiarias, que iam buscar à Índia e transportavam em naus até
Lisboa, sendo depois vendidas para o resto da Europa a preços muito elevados.
Esta rota era chamada de “Carreira da Índia”.
Em 1519, Fernão de Magalhães, ao serviço
dos reis de Castela, concluiu a primeira viagem de circum-navegação, provando
que a Terra é esférica.
O Império
Português e a Lisboa quinhentista
Com a expansão marítima, Portugal formou
um vasto império, formado pelos arquipélagos atlânticos e territórios
africanos, asiáticos e americanos.
Os arquipélagos dos Açores e da Madeira
eram desabitados quando os Portugueses os descobriram. Para os colonizar, o
Infante D. Henrique dividiu-os em capitanias, entregues ao governo de
capitães-donatários, que deveriam atrair colonos e desenvolver economicamente o
seu território.
Na Madeira desenvolveram a extração de
madeira, a pesca e a agricultura, com o cultivo do trigo, da cana-de-açúcar e
da vinha. Nos Açores desenvolveram a criação de gado e a agricultura, com a
plantação de trigo, da cana-de-açúcar e de plantas tintureiras. Os lucros da
exportação destes produtos foram importantes para o avanço da exploração da
costa ocidental africana.
Em África, os Portugueses encontraram
povos de raça negra, que se organizavam em reinos e tribos, com línguas e
costumes muito diferentes. Com eles os Portugueses estabeleceram trocas
comerciais, comprando ouro, marfim, malagueta e escravos e vendendo tecidos,
adornos, trigo e sal. O comércio era feito por troca direta. Junto à costa, nas
regiões de maior comércio, foram construídas feitorias e fortalezas, locais de
comércio fixo, com armazéns para guardar os produtos.
Na Ásia, os Portugueses depararam-se com
civilizações antigas, como a indiana, a chinesa e a japonesa. Apesar dos
costumes exóticos, tinham um elevado nível de desenvolvimento. O principal
objetivo dos Portugueses na Ásia era o comércio das especiarias. No entanto,
não foram muito bem recebidos pelos indianos, que estavam habituados a
comercializar com os Muçulmanos.
D. Manuel, para garantir o domínio no
Índico, nomeou um vice-rei da Índia, ou seja, um governador. Os mais
importantes foram D. Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque. Foram
enviados soldados e missionários para defender e cristianizar as populações
nativas. Desta forma, os Portugueses expandiram-se rapidamente: chegaram à
China, ao Japão, às Molucas, a Timor e a Macau. Destas terras traziam
especiarias e produtos de luxo, como sedas, porcelanas e perfumes, que pagavam
com ouro e prata. Para organizar as trocas comerciais também foram construídas
feitorias.
No continente americano, os Portugueses
exploraram o Brasil, habitado por tribos de ameríndios. Inicialmente, o
território brasileiro não despertou grande interesse; os Portugueses apenas
exploraram o pau-brasil e o comércio de animais exóticos. Só quando os lucros
do comércio com o Oriente diminuíram é que a colonização brasileira se tornou
uma prioridade. Em 1535, D. João III dividiu o Brasil em capitanias, para que
os capitães-donatários tratassem de povoar e explorar as terras. Iniciou-se a
produção de açúcar e o cultivo da banana, com recurso a mão de obra escrava, de
origem índia e africana. Em 1549, o rei criou o cargo de governador-geral,
tendo nomeado para o cargo Tomé de Sousa. Foi ele que levou para o Brasil os
primeiros jesuítas, responsáveis por transmitir a religião cristã, a língua e
os costumes europeus aos indígenas.
A cidade de Lisboa, capital do Império,
cresceu durante o século XVI, fruto do dinamismo do Império Português. O seu
porto ligava as rotas entre a Europa, África, Ásia e América. Nas suas ruas
via-se gente muito diferente: mercadores e banqueiros europeus, marinheiros,
aventureiros e escravos negros. Para melhor controlar o tráfico comercial, o
rei D. Manuel mandou construir a sua residência - o Paço Real - e a Casa da
Índia junto ao Tejo. Os lucros gerados pelo comércio marítimo proporcionaram
uma vida de luxo a nobres e burgueses; no entanto, as classes populares
continuavam a viver na miséria.
Os efeitos e
consequências da expansão marítima
A expansão marítima facilitou a ligação da
Europa a outros continentes. Foram descobertas novas terras, mares, povos, animais
e plantas. Trocaram-se produtos, incluindo alimentos – como a malagueta e o
café de África, o chá e as especiarias da Ásia, o milho e a batata da América –
introduzidos na dieta alimentar europeia.
O contacto com outros povos originou
trocas de costumes, formas de vida, conhecimentos e técnicas. Dessas
influências destacam-se: a religião cristã, que se expandiu graças à ação dos
missionários, e a língua portuguesa, que ainda hoje é falada no Brasil, em
vários países africanos e em Timor.
Para povoar e explorar os novos
territórios, era necessária muita mão de obra. Por isso, muitos escravos
africanos foram levados para o Brasil, onde eram tratados como mercadoria. Por
sua vez, muitos colonos portugueses juntaram-se com mulheres de outros continentes,
dando origem ao aparecimento de populações mestiças. Nos locais onde os
Portugueses permaneceram por mais tempo, ainda é possível vermos várias
construções por eles edificadas, sendo a sua maioria igrejas.
Com as descobertas marítimas,
desenvolveu-se também a ciência, a arte e a literatura. Registaram-se avanços
nos domínios da Astronomia e da Matemática, tendo aí se destacado Pedro Nunes.
Duarte Pacheco contribuiu para o desenvolvimento da Geografia e Garcia de Orta
destacou-se na Botânica, pesquisando sobre as plantas utilizadas para fins
medicinais e contribuindo para o avanço da Medicina. A Cartografia e a Zoologia
também registaram conhecimentos notáveis. Na literatura, protegida pelo rei,
desenvolveu-se a poesia, o teatro e os relatos de viagens. Luís de Camões
escreveu Os Lusíadas, uma obra em verso, cuja ação central é a viagem de
Vasco da Gama à Índia.
Na arte, desenvolveu-se, no reinado de D.
Manuel I, o estilo manuelino, caracterizado pela decoração com motivos
marítimos e vegetais e símbolos do rei e do reino, sendo exemplos deste estilo
a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e a janela da Sala do Capítulo do
Convento de Tomar. Para além da arquitetura, também se desenvolveram outras
manifestações artísticas manuelinas, por exemplo, ao nível da ourivesaria e do
mobiliário.
A perda da
independência portuguesa em 1580
Após a morte de D. João III, sucedeu-lhe o
seu neto, D. Sebastião, que tinha apenas 3 anos. Em 1568, quando completou 14
anos, deu início ao seu reinado, sonhando combater os Muçulmanos no Norte de
África. Organizou um grande exército e, em 1578, partiu para Marrocos. No
entanto, na Batalha de Alcácer Quibir, os Portugueses foram derrotados, sendo
mortos ou feitos prisioneiros e D. Sebastião desapareceu, deixando o trono sem
descendentes…
Sucedeu-lhe o seu tio-avô, o Cardeal D.
Henrique que, para além de ser membro do clero, estando por isso, impedido de
casar, já tinha uma idade avançada. Após a sua morte, em 1580 apresentaram-se
três pretendentes ao trono, todos netos de D. Manuel: Filipe II, rei de
Espanha, D. Catarina de Bragança e D. António, prior do Crato. Filipe II era
apoiado por grande parte do clero, nobreza e burguesia, que pretendiam obter
mais cargos e privilégios. D. António era apoiado pelo povo e algumas cidades chegaram
a aclamá-lo rei; porém, o exército de Filipe II invadiu Portugal e derrotou as
tropas de D. António na Batalha de Alcântara, em 1580. D. António fugiu para os
Açores, onde, a partir da ilha Terceira, continuou a resistir aos Castelhanos.
Porém, em 1581, Filipe II foi aclamado rei de Portugal nas Cortes de Tomar…
O domínio
filipino em Portugal
Em 1581, Filipe II de Espanha foi aclamado
rei de Portugal, unindo os dois reinos. Nas Cortes de Tomar, o novo rei
comprometeu-se a manter as leis, a língua e a moeda portuguesa; respeitar os
usos e costumes nacionais; e entregar o governo e administração do reino e do
Império apenas a Portugueses. Iniciava-se assim, a União Ibérica, período de 60
anos que corresponde à dinastia filipina, ou seja, ao reinado de Filipe I,
Filipe II e Filipe III.
Nos reinados de Filipe II e Filipe III, as
promessas feitas em Tomar não foram respeitadas. A Espanha estava em guerra com
a Inglaterra, a França e a Holanda e os soldados portugueses foram envolvidos
nos conflitos castelhanos. O povo viu os impostos a aumentar e as colónias
portuguesas eram atacadas pelos inimigos de Espanha.
A população portuguesa manifestava o seu
descontentamento com motins e revoltas, como foi o caso da “Revolta do
Manuelinho”, em Évora.
A Restauração
da Independência
A 1 de dezembro de 1640, um grupo de 40
nobres iniciou uma revolta contra o domínio filipino. Invadiram o Palácio Real
e mataram D. Miguel de Vasconcelos, o secretário de Estado. A Duquesa de
Mântua, representante de Filipe III, foi presa. De seguida, proclamaram a
independência de Portugal e a 15 de dezembro, nas Cortes de Lisboa, D. João,
duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, dando início à quarta e última
dinastia portuguesa: a dinastia de Bragança.
Filipe III não tolerou esta revolta e
invadiu Portugal. D. João IV preparou-se para enfrentar o exército castelhano:
formou um grande exército, construiu fortes e fortalezas junto à fronteira e
enviou embaixadores para o Papa e para os vários países da Europa, procurando
aliados.
As guerras da Restauração duraram 28 anos.
Em 1668, com a assinatura do tratado de paz de Madrid, os Espanhóis
reconheceram finalmente a independência de Portugal.
Após a Restauração da Independência,
Portugal conseguiu recuperar alguns territórios que estavam ocupados por
estrangeiros e expulsou os Holandeses de Angola e do Brasil, momento importante
para a economia nacional, pois este era a principal colónia portuguesa da
época.
E agora…
BOM TRABALHO!
DICA: IMPRIME ESTE DOCUMENTO POIS ESTE PODERÁ MELHORAR O TEU DESEMPENHO PARA A PROVA DE AFERIÇÃO.